sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Rei Amador

Hoje foi feriado em STP. Dia do Rei Amador. Esta figura, mistura entre mito e realidade, simboliza em grande medida a vontade de independência do povo das ilhas.

Podemos encontrar, um pouco por todo o lado, este tipo de figuras. A padeira de Aljubarrota ou D. Sebastião em Portugal. Joana d’Arc em França. Simón Bolívar na América do Sul. Ou o globalizado e agora “capitalizado” Che Guevara.

Sendo à partida figuras que existiram no seu tempo, todas elas sofreram com o tempo um efeito de purificação e glorificação que os tornou quase sobre-humanos e isentos de pecado. A padeira que matava aos sete espanhóis de cada vez com a pá que levava o pão ao forno. Não é preciso dizer que, certamente, a sua padaria não se manteria aberta durante muito tempo nos dias de hoje... O infeliz D. Sebastião, pobre menino, que se perdeu na bruma para nunca mais voltar e que, podendo ter outras qualidades, uma delas não seria certamente reinar. Joana d’Arc, menina iluminada por Deus, que guiou os bravos franceses perante os ignóbeis ingleses. Isto quando apenas ainda tinha atingido a puberdade. Simón Bolívar, libertador da América do Sul, e, claro, sanguinário. Por fim o revolucionário pop, Che Guevara, morto a tempo de ficarmos apenas com o lirismo da sua figura.

O Rei Amador entrará portanto no Olimpo destas figuras humanas e míticas. De facto, terá existido em São Tomé, no século XVI, embora haja dúvidas sobre a sua origem. Uns dizem que se tratava de um escravo fugido das roças e que, unindo os vários escravos, tomou conta de boa parte da ilha pondo em causa a presença portuguesa. Outros contudo, sustentam que este era Rei dos Angolares, povo/povoação do sul da ilha que, segundo as crónicas, teria sido resultado do naufrágio de um navio negreiro com escravos de Angola. Esta povoação teria uma existência relativamente independente quanto ao resto da ilha.

Seja como for, em Julho de 1595, Amador e seu séquito pôs em polvorosa a ilha, atacando a presença portuguesa e matando alguns brancos. A revolta teve o seu fim com a morte de Amador, traído por um dos seus homens de confiança. Pois é, a história repete-se...

* Imagem retirada daqui

2 comentários:

Woman Once a Bird disse...

Um pouco a exemplo do nosso nebuloso Viriato (e também do Cristo de todos nós).
Grande texto, Mister.

Mr. Lekker disse...

Pois é, esqueci-me do Viriato. Não destoa nada no Olimpo referido! ;)